Pesquisadores da Comunicação discutem marcos teóricos acerca do racismo

Nos últimos anos, pesquisadores têm desenvolvido estudos sobre o racismo na comunicação. Entretanto, surgem questionamentos acerca dos marcos conceituais para se referir às pesquisas do campo, tais como racismo estrutural, forma social escravista ou ainda se os estudos devem formular uma outra proposta.


Diante da relevância desse tema, o Grupo Rhecados reuniu os pesquisadores e intelectuais de referência no Brasil, Muniz Sodré, Dennis de Oliveira e Rosane Borges, na roda de conversa “Estrutura ou forma social escravista: o racismo na comunicação”. A finalidade foi buscar um posicionamento dos estudiosos sobre as abordagens mais adequadas para se pensar a temática.


O evento, que aconteceu na noite da última terça-feira (22), foi mediada pelas professoras do curso de Jornalismo em Multimeios da UNEB e também pesquisadoras da área Marcia Guena e Ceres Santos e apresentada pelo jornalista e mestre Jadir Souza, na Semana de integração em comemoração aos 20 anos do curso de Jornalismo em Multimeios, na UNEB em Juazeiro.


O momento foi iniciado com um minuto de silêncio em homenagem à liderança quilombola Bernadete Pacífico, assassinada no último dia 17, na Bahia, contando também com a manifestação dos professores presentes. O seminário teve como discussão central o questionamento do Grupo de Pesquisa para os convidados sobre como os estudos devem se posicionar com relação aos conceitos de racismo estrutural ou forma social escravista, como também se devem formular outra proposta.


Pela perspectiva do jornalista e coordenador científico do Centro de Estudos Latino-americanos sobre Cultura e Comunicação (CELAC), Dennis de Oliveira (USP), não se faz necessário assumir uma nova posição do grupo. Ele busca pensar o racismo para além de uma discussão comportamental. O pesquisador cita um paper que apresentou que analisa como alguns veículos cobriram as questões relativas ao preconceito e racismo, e apesar da visibilidade maior, o genocídio de jovens negros e práticas raciais mais violentas continuaram crescendo, através do que ele chama de um “arcabouço ideológico de desumanização dessa população”.


O professor emérito da UFRJ e estudioso da comunicação, Muniz Sodré, apresentou uma problematização a respeito do tema racismo estrutural, pois compreende que “a estrutura é indiferente ao que ocorre dentro dela”. Dessa forma, o racismo no Brasil deve ser visto como institucional e não estrutural, como uma discriminação concreta e formal, que se manifesta no mercado de trabalho, bem como mobiliza padrões estéticos em ação. Ao situar a problemática nesse escopo teórico, é possível pensar em uma transformação das instituições quanto a temática e fomentar novos estudos no campo da comunicação.


Com livros publicados sobre a temática racial na comunicação, a jornalista e pesquisadora Rosane Borges trouxe uma perspectiva de abordagem que pensa o racismo no campo da comunicação em que as formas e estruturas não estão em oposição. Segundo a jornalista, o que garante as especificidades do racismo brasileiro é uma forma social escravista.

Contribuição do Debate

O estudante de Direito Guilherme Almeida da Silva ressaltou a importância da discussão sobre o racismo para a comunidade acadêmica. Ele avalia que foi uma oportunidade relevante reunir pesquisadores e intelectuais para debater sobre raça e racismo no Brasil, pois estimula uma transformação social. “Pudemos testemunhar que a discussão em si representa um momento ímpar do desenvolvimento dos debates teóricos acerca do racismo.” Ele acrescenta ainda que o Rhecados e a UNEB “acertaram na proposição do debate”, por ser um tema relevante para os diversos campos do conhecimento.

Texto: Laise Ribeiro/Karyne Ramos/Andreia Cristiana Santos

Imagem: Divulgação